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Foto do escritorBárbara Leão de Carvalho

#day 36 – Memórias do TransAtlântico à Vela (Parte 1)

“Porquê apanhar um avião se posso ir de barco?”

Estava a planear voos para um retiro na selva amazónica peruana, quando uma pergunta agarrou a minha atenção: “Porquê apanhar um avião se posso ir de barco?” Obvia pergunta… Porquê sempre avião? Porque é que o caminho não se faz mesmo caminhando ou neste caso, velejando? Ainda hoje estou para saber de onde surgiu a pergunta, mas o que é certo é que aqui estou, neste barco, à deriva.

Comecei por tentar lembrar-me de amigos que velejassem e pudessem estar eventualmente a fazer a rota que eu procurava (Portugal-Brasil) e me pudessem levar. Prometia ser ajuizada e dedicada aprendiz. Mas aparentemente nem muitos o fazem… Mas eu estava decidida… Quem me conhece sabe que raramente desisto de algo que quero muito… E por isso, não tendo encontrado ninguém em Portugal, decidi procurar online. Foram inúmeros os sites que descobri que cruzam capitães com disponibilidade nos seus barcos, e marinheiros (ou iniciantes) com vontade de seguir viagem (ex: http://oceancrewlink.com/). Não demorou mais do que um mês até (depois de uma série de tentativas) receber uma chamada de um tal capitão alemão cinquentão que me aceitava no barco caso eu estivesse disponível para dar aulas de português. Aparentemente ele passa tanto tempo em portos de Cabo Verde, Madeira, Açores, Brasil e Portugal que é compreensível que precisasse mesmo de aprender a língua. O acordo pareceu-me justo. Eu ensinava português, e ele ensinava-me a velejar. E assim foi, antes do transatlântico, era preciso entregar um 64 pés a Marmaris (Turquia). Ia partir de França e convidou-me para ir e fazer uma primeira viagem mais curta antes da passagem atlântica. Pareceu-me lógico e super interessante fazer o mediterrâneo como experiência, não fossem as datas cair mesmo em cima do Natal… A minha mãe que sempre apoia estas loucuras, só disse “vai! Natal há todos os anos”, e eu fui. Quem tem uma mãe assim, que nos empurra para o mundo desta forma. Que nos deixa de consciência tranquila sempre que queremos ir por ai fora viver? Dois dias depois já me via no aeroporto depois da correria habitual de passaportes e compras de equipamento onde constavam na check-list items que provavelmente nunca tinha visto na vida como coletes salva vidas com linha de vida, que apesar de não serem nada de extraordinários, não são propriamente o tipo de items que se tem em casa “por acaso”. Por sorte, e dadas as minhas manias de me atirar de cabeça às experiências, um telefonema ao professor com quem tinha acabado de tirar a carta de patrão local, resolveu a questão das duvidas e eu estava finalmente encaminhada para o teste a acontecer perto de casa ainda. Estava assim pronta para seguir viagem. Dei por mim, no entanto a constatar a loucura de tudo aquilo. Tinha, há dois dias atrás, marcado uma passagem para Marselha (o aeroporto mais perto do porto em França onde ia encontrar o capitão), cidade esta que não se trata do melhor local para se chegar à noite e sozinha. Ainda por cima, tive que fazer tempo pois a minha boleia só chegava uma hora depois. Jantei na estação dos comboios e dei por mim constatar que tinha acabado de apanhar um avião para Marselha, esperava uma boleia Bla Bla Car (por não haverem mais comboios aquela hora) de um francês que não conhecia nem tinha qualquer tipo de referências, para me levar ao Porto onde um capitão que eu igualmente desconhecia me esperava, para atravessarmos o mediterraneo à vela e entregar um barco de luxo ao seu dono na Turquia, deixando para tras os doces de natal, e a família que tanto me queria. Loucura ou viver? Nunca soube bem distinguir as duas coisas 🙂

(to be continued… 🙂

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