Sei que confundo, baralho, receio. Por ter em mim um rio selvagem. Sei que me incompreendem. Me desentendem. Me desacreditam. Por nunca ter aparado as minhas margens. Por não ter limado as arestas. Por seguir inteira e convicta por aí.
Nesta rebeldia em que me revejo. Manter-me intacta é como me vejo. Para além das obrigações dos outros. Em todo o branco que há em mim.
E depois choro por que não encaixo. Mas quem genuinamente redondo encaixa no meio de tantas vozes quadradas? Tenho na individualidade o refúgio para os dias mais turbulentos. Pois é a acreditar no que sou que gero a minha própria âncora. Não vá a tempestade do outro interferir em mim.
Não sou de águas paradas. Tenho um ímpeto de revolução, que tento levar com toda a doçura que consigo. Mesmo quando a revolta pelos erros da humanidade me arranham dentro. Pois não consigo conter, o que acredito, em mim.
É difícil desbravar sonhos no meio de tantas pessoas agarradas a mágoas. Não por mim, que sigo leve. Mas porque acabo por sofrer com a prisão das mesmas.
Talvez por isso seja apaixonada pela floresta. Pelo alto mar. E pelos penhascos. Amo ser vertiginosamente selvagem. Arrogante até no que me faz pura. E não me deixar corromper pelos limites. E muito menos cair em escravatura.
Não quero viver numa sociedade domada. Pelos caprichos e ambições de alguns. Quero criar o mundo que devia ser. Não nos tivéssemos nós esquecido do nosso lado selvagem. Aquele que é Natureza em si. Aquele que se rasga de vida. Se encontra nos princípios. De um ecossistema conjunto que é o nosso.
Sofro com a Humanidade perdida. Mas não me perco nas lágrimas. Porque me levanto sempre com a garra de fazer acontecer. Dia após dia. Uma vida selvagem.
Comments